Análise Semanal do Agronegócio Brasileiro

Atualizado em 09 de Novembro de 2025

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Esta análise semanal traz os principais movimentos do agronegócio brasileiro, com foco especial nas regiões de Rio Grande do Sul e Paraná. Você encontrará análise completa, infográfico visual com KPIs e resumo em podcast.

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🎧 Resumo em Podcast (7-8 min)

📰 Análise Completa

Manchete da Semana: A Pior Crise de Crédito Rural Desde o Plano Real Trava o Início da Safra no RS

A manchete desta semana é o aprofundamento da crise de crédito no campo, classificada pela Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul) como a "maior crise de crédito rural desde o Plano Real". O levantamento da Farsul, divulgado no final de outubro, revela uma retração drástica nos recursos para a safra 2025/26: em nível nacional, o custeio caiu 23% e os investimentos despencaram 44% no primeiro trimestre do ciclo (julho a setembro).

O Rio Grande do Sul reflete essa realidade de forma ainda mais aguda, com quedas de 25% no custeio e 39% nos investimentos. Este cenário é agravado por uma inadimplência recorde, que atingiu 5,14% em julho (a maior da série histórica) e 9,35% no crédito livre.

O impacto dessa "tempestade perfeita" de juros altos, inadimplência e restrição de capital é visto diretamente no campo. Em Brasília, a Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) pressiona o governo pela liberação de R$ 12 bilhões em crédito emergencial (MP 1.314) que continua inacessível devido a entraves burocráticos.


Análise dos Especialistas: O Paradoxo de 2025

As análises de Kellen Severo focam no grande paradoxo que definirá o próximo ano: a projeção de um 2025 recorde contra a realidade de um 2024/2025 operacionalmente arriscado.

O lado otimista: A Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) estima um crescimento de até 5% no PIB do Agronegócio em 2025, impulsionado por uma expectativa de safra recorde.

Os riscos imediatos:

  • A Realidade do Crédito: As projeções de crescimento esbarram na preocupação do setor com a alta do dólar, os juros elevados (Selic) e a dificuldade de acesso ao crédito rural.
  • Risco Geopolítico e Custo: A escalada de conflitos no Oriente Médio pode levar o barril do petróleo a mais de 100 dólares, impactando diretamente o preço do diesel, o frete e os custos dos insumos.
  • Relações Internacionais Complexas: A China avança em seu plano de autossuficiência alimentar, enquanto a nova Lei Antidesmatamento da União Europeia apresenta-se como barreira regulatória e oportunidade.

Termômetro dos Fertilizantes: Custo Elevado para 2025/26

A análise de Jeferson Souza (Agrinvest) confirma que a safra 2025/26 será "inevitavelmente mais cara". A maior preocupação é com o milho safrinha, que ainda tem cerca de 70% dos fertilizantes por comprar.

O cenário de custos é alarmante: o Potássio (KCl) está sendo negociado entre US$ 90 e US$ 100 por tonelada acima dos níveis de outubro do ano passado, e os Fosfatados (MAP) seguem firmes.

Nutriente (Produto) Preço (USD/tonelada - CFR Brasil) Tendência (Início de Novembro)
Nitrogênio (Uréia) ~$425 ALTA
Fósforo (MAP) ~$715 ESTÁVEL
Potássio (KCl) ~$360-365 ESTÁVEL

Radar dos Defensivos: Crescimento Modesto e Explosão dos Bioinsumos

O mercado de defensivos químicos apresenta um cenário paradoxal. Embora a área tratada (PAT) tenha crescido (+12% na soja), o faturamento do setor caiu (-4,3% na soja, -7% no milho 2ª safra, -16% no milho verão).

Para 2025, a projeção do setor é de um crescimento modesto, entre 3% e 6%. Em contrapartida, o segmento de bioinsumos vive uma explosão, com projeções de crescimento de 13% a mais de 30%.


Foco no Sul: O Contraste Extremo entre o Atraso Gaúcho e o Avanço Paranaense

A situação da Região Sul é a que melhor ilustra a safra "desigual" do Brasil. Os dois estados vizinhos vivem realidades opostas neste início de novembro.

Paraná: Plantio Acelerado

O Paraná avança em ritmo acelerado. O último relatório do DERAL indicava que 68% da área de soja já estava semeada, com fontes de mercado apontando um número próximo de 79% na primeira semana de novembro. O plantio do milho verão está tecnicamente finalizado, com 98% da área coberta. As condições das lavouras são majoritariamente (96%) consideradas "boas".

Rio Grande do Sul: Atraso Crítico e Crise no Arroz

O cenário gaúcho é o mais preocupante do país. O plantio da soja está severamente atrasado: dados da Emater/RS-Ascar do final de outubro apontavam apenas 5% da área semeada. O boletim mais recente da Conab (01/nov) elevou esse número para 9%.

Os motivos para o ritmo lento são claros e interligados:

  • Crise de Crédito: A principal causa. Produtores estão descapitalizados e com acesso restrito a financiamento.
  • Estratégia do Produtor: Receio de períodos secos em novembro e dezembro, levando a um adiamento deliberado da semeadura.
  • Clima e Prioridades: Irregularidade das chuvas em certas zonas e a priorização do plantio do milho (que já atingiu 80% da área).

Para agravar a pressão financeira, o setor de arroz enfrenta um colapso. Os preços da saca do produto em casca atingiram o menor nível em 14 anos, sendo negociados a R$ 59,17 – muito abaixo do custo de produção, estimado entre R$ 75 e R$ 90.

Estado Cultura % Plantada (Início Nov) Análise de Ritmo
Paraná Soja 68% - 79% Acelerado, em fase final
Paraná Milho 98% Concluído
Rio Grande do Sul Soja 5% - 9% Atraso Crítico
Rio Grande do Sul Milho 80% Avançado
Rio Grande do Sul Arroz 57% Crise de Preços